terça-feira, 20 de março de 2012

PROFESSORES E ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃO PRESSIONAM PRÓ-REITOR CONTRA PROPOSTA DE REGIMENTO


Na audiência pública realizada ontem (19/3),  no prédio da Administração da Poli, estudantes e professores posicionaram-se maçicamente contra a forma apressada com a qual a proposta de alteração do regimento de pós-graduação tem sido conduzida.
Cerca de 100 estudantes participaram da atividade. Uma carta redigida pela assembleia dos estudantes de pós-graduação do campus capital (leia abaixo) foi lida e, a partir dela, várias críticas ao caráter do regimento foram apresentadas.
Os estudantes reivindicam que o Conselho de pós-graduação não aprove o novo regimento (a reunião do Copgr que definirá a questão está marcada para o dia 28/3) e que amplie as discussões ao longo do semestre com maior participação da comunidade acadêmica.
Amanhã, às 18h30, na sala 111 da Sociais, ocorrerá a próxima assembleia de pós, onde serão discutidas a greve e as formas de mobilizaçãopara deter a aprovação do regimento.

CARTA ABERTA A RESPEITO DA PROPOSTA DE NOVO REGIMENTO DA PÓS-GRADUAÇÃO DA USP
Os estudantes da pós-graduação da USP - Campus Capital, reunidos em assembleia no dia 14 de março, amplamente divulgada – por diversos meios, inclusive o sistema Janus – declaram-se contrários ao resultado final da proposta de alteração do Regimento da Pós-Graduação, apresentada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação em minuta, divulgada no dia 27 de fevereiro, bem como à forma como foi conduzido o seu processo de redação.
Partindo de uma avaliação minuciosa do caráter de cada um de seus itens, os estudantes reunidos alçaram uma avaliação global do sentido do documento, que recusam em função da transformação pra qual o mesmo aponta: uma precarização estrutural das condições de ensino e de pesquisa.
Entendemos que o conjunto das alterações propostas prioriza o produtivismo – por meio do qual a orientação quantitativa se sobrepõe à qualitativa na formação dos pesquisadores.  Além disso, a abertura dada pelo documento aponta para um recrudescimento da mercantilização e da privatização das atividades acadêmicas, acarretando piores condições para a realização das pesquisas.
Esse foco produtivista pode ser apontado em propostas como a redução do prazo de qualificação, o aproveitamento de disciplinas cursadas como aluno especial ainda durante a graduação, e a adoção de processos avaliativos prévios à defesa. Todos esses expedientes configuram uma aceleração da realização da pós-graduação,  que usurpa o tempo necessário  à formação de pesquisadores capazes de uma atuação social critica.
Quanto à mercantilização podemos citar o fortalecimento de mestrados profissionais, e a supressão de dispositivos que regulamentavam a relação da Universidade com parceiros privados e impediam a cobrança financeira aos estudantes para a realização de seus estudos de pós-graduação.
Percebe-se que o novo regimento se fundamenta dentro da perspectiva do Plano de Desenvolvimento Institucional da USP (2012-2017), que tem como meta “tornar a USP uma universidade de classe mundial”, a partir de um foco desmedido na subida nos rankings internacionais, sob risco de transformar a pós-graduação uspiana numa anomalia dentro do sistema nacional de pós-graduação, ameaçando ainda mais a possibilidade de concessão de bolsas.
A prerrogativa de eliminação dos programas de pós-graduação dada às câmaras centrais, por critérios de avaliação pautados nesses rankings internacionais, evidencia que a suposta descentralização de poder oferecida pelo novo regimento tem um caráter, em verdade, mais centralizador, colocando em risco a diversidade das diferentes áreas de conhecimento e culturas de pesquisa.
Tal centralização de poder se manifesta atualmente na maneira como diversas modificações no âmbito geral da USP tem se dado, tais como o advento do BUSP, a transformação de diversas coordenadorias em superintendências submetidas diretamente à reitoria, a aprovação ad referendum do Orçamento da USP no Conselho Universitário, e o esvaziamento do poder decisório de todos os órgãos colegiados, incluindo o CO.
Tudo isso acontece num contexto geral de repressão na USP, que tem servido justamente para afirmação desse projeto centralizador de universidade. Um polêmico convênio foi assinado com a PM.  Já foram presos 84 estudantes, 8 estudantes foram expulsos, existem inúmeros processos administrativos e judiciais contra estudantes, funcionários  e professores – incluindo as diretorias da ADUSP e SINTUSP – motivados por intervenções políticas no campus. Todos esses fatos consolidam um ambiente de verdadeira asfixia ao exercício do livre pensamento e às condições mínimas para a vida universitária.
A gestão centralizadora da Universidade se expressa claramente na própria forma de condução da proposta de mudança regimental da pós-graduação, que seria aprovada – durante as férias – sem ampla discussão da comunidade acadêmica.  Tanto a prorrogação do prazo de aprovação, quanto esta audiência realizada hoje só aconteceram por pressão dos estudantes em greve a partir de uma moção da assembleia da pós, que já em dezembro de 2011 acusava a forma pela qual a Pró-reitoria de Pós-graduação vinha conduzindo a reforma do Regimento.
Ao longo do mês fevereiro e no início de março foram feitas por parte dos professores diversas propostas de alteração, que – ao fim – não foram incorporadas ao texto. Portanto, entendemos que a presente audiência não é suficiente como discussão verdadeiramente democrática e não pode ser considerada meio de legitimação do processo em curso.
Entendemos que a elaboração de uma proposta de alteração regimental, como essa, não pode ser realizada sem a criação de espaços de debate e consulta que possam garantir a ampla participação de estudantes e professores, em vários níveis, desde grupos de trabalho abertos até as Comissões de Pós-Graduação de cada unidade.
Um processo de debate amplo e aberto permite o envolvimento de um número maior de estudantes e professores, além de aprofundar a discussão sobre os pontos específicos de alteração do Regimento.
Assembleia dos Estudantes de
Pós-Graduaçao da USP– Campus Capital

Próxima Assembleia: Quarta-feira. 18:30h. Sala 111. Ciências Sociais. USP.https://www.facebook.com/events/373675465986656/ 

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